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"A PEDRA FUNDAMENTAL"

(Carta de Princípios do Centro Cultural Sapucaia)

Meus filhos.... Minhas filhas...

Deus abençoe a cada um de vocês... 

 

Cem anos atrás, num longínquo 20 de novembro de 1911, lá no meu Piraquara; ao ser parido por minha mãe Deolinda e criado posteriormente por minha Tia Antônia, ninguém e muito menos eu poderia ter consciência que uma longa história ali se iniciava. Virei moleque, rapazola e me tornei homem feito... 

Belterra foi o meu destino! Não um destino sonhado, pensado, escolhido. Mas, um destino forçado pela necessidade da sobrevivência, pois ali cheguei em busca de emprego que me garantisse o pão de cada dia. 

Destino forçado, mas, abençoado! Além de emprego, encontrei ali a felicidade da minha vida, encontrei minha querida Nega Velha, Eunice.... Por ela me apaixonei tão perdidamente que aceitei trocar minha vida boêmia, minha cachaça e meu violão para me tornar um pai de família. 

E pela força da nossa juventude, parimos os nossos primeiros filhos e combinamos o nome que íamos pôr em cada um deles... Primeiro nasceu o Miguel, depois nasceu Ranulfo, Raimundo e Ortenira. Nossa casa era só alegria, e com os gritos e risos daquela criançada, não dava para reclamar das dificuldades da vida. E foi por conta desse entusiasmo que acabamos por gerar, logo em seguida, mais quatro filhos e filhas: Saul, Maria, Elfrida e Rainilda. E nem me perguntem a razão dos nomes escolhidos, pois, só de lembrar aqueles tempos, volto a sofrer as angústias e apertos que tivemos, Eu e Eunice, para dar de comer e sustentar oito crianças... 

Já era uma família grande, mas, como vocês sabem, Belterra tem um clima muito frio e Eunice era uma mulher parideira... O resultado é que ainda aumentamos em seis, o número de nossa filharada... Euniciana, Francisco Paulo (que morreu aos 45 minutos de vida), Pedro, Rita, Milton e Socorro... A história de como foi possível criar e educar a todos, já está contada nas revistas que vocês fizeram para homenagear a mãe de vocês. 

Hoje, vocês, já todos maduros, estão aqui reunidos para celebrar os 100 anos do meu nascimento. Resolvi “ressurgir”, através da memória do Pedro, para participar das discussões e debates. Não estou “ressuscitado” como creem meus irmãos católicos e nem estou “criptografando uma mensagem” como creem os irmãos que abraçam a filosofia espírita. Tudo não passa de uma inspiração que passei a Pedro, mas poderia ter passado ao Saul, à Maria, à Socorro, ao Raimundo, a uma nora, a um neto ou bisneto, e a qualquer um de vocês que quisesse se deixar inspirar. Portanto, tudo que quero nesse momento, é estar “presente” entre vocês, nesta data importante para a nossa família. 

Aliás, falando sobre família, lembro que foi o Milton quem apresentou a ideia de que a data do meu nascimento representava, também, a data de início da formação da Família Peloso. Não acho exato falar que  a família Peloso se inicia com o meu nascimento, até porque, antes de mim vieram minha mãe, minha vó, e tantos outros.... Porém, considerando a história do sobrenome Peluso que recebi de meu padrinho e que vocês o receberam posteriormente, já com a grafia Peloso, posso considerar que naquele 20 de novembro de 1911, junto com o meu nascimento, nascia também a Nossa Família. 

Vocês estão hoje aqui reunidos para conversarem sobre a possibilidade de construírem no terreno da São Sebastião, um Centro Cultural que levaria o meu nome e o nome da Eunice. Tudo bem, essa é uma ideia de vocês. Se quiserem, façam! Todavia, já que vão colocar no projeto os nossos nomes, preciso então expressar o que desejo que seja observado nesse projeto... 

Primeiro, que o Centro seja uma forma de reunir a família, jamais de dispersá-la. E isso se faz por meio de  uma gestão aberta a todos os membros; garantindo espaço para a pluralidade das ideias concebidas por seus sustentadores; e que as decisões sejam sempre tomadas de forma a contentar a todos; 

Segundo, que o papel central do projeto seja a educação das pessoas. Jamais o engodo, a desinformação, a doutrinação, ou a enganação da boa fé de outros; 

Terceiro, que o Centro, mesmo aberto para servir ao público em geral, tenha sempre mecanismos para  garantir que os mais necessitados possam também usufruir dos possíveis benefícios do projeto. 

Se por acaso algum dia o Centro Cultural não tiver mais os objetivos acima, retirem o meu nome e o de  Eunice do projeto. 

Meus filhos.... Minhas filhas... 

Ao finalizar esta missiva, digo-vos que fico feliz em perceber que o conceito que vocês têm de família é o mesmo conceito do fundador do cristianismo para o qual, são membros de uma mesma família, todos aqueles que comungam dos mesmos ideais e têm um mesmo projeto de vida. 

E vocês se lembram do que vos ensinei na infância sobre Justiça, Honestidade e Amor ao Próximo? Pois bem, gostaria sim de ver todos vocês reunidos em torno dessa ideia do centro cultural, desde que esse projeto sirva para garantir a vivência, a divulgação e o fortalecimento desses princípios. Se este for o entendimento de todos, fico honrado em servir como a Pedra Fundamental sobre a qual estamos edificando a Nossa Família. 

Deus abençoe a todos. Fiquem em Paz!  Em, 13/11/2011 (Texto: Pedro Peloso)

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